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“Portanto, este Parque pede respeito com sua condição de Patrimônio Histórico e Cultural desta comunidade”

DIARIO URUGUAI
 
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Marlon Aseff
Desde Florianópolis, SC, Brasil
(…) O Parque não é uma praça comum, é um local, senão único, como muito poucos no Mundo..Foi feito um projeto urbano/paisagístico de forma integrada, com a linha divisória compondo um eixo de ponta a ponta, onde estão os monumentos, caminho central que se integra a todos os outros secundários de forma harmônica. formando um projeto único. E a proposta da nova obra, pelo que eu entendo e pela localização dos tapumes, interrompe este eixo central com um prédio destinado a serviços e isso , na minha opinião, independe das características do novo projeto..Esta interferência, na minha opinião, se fosse transferida do aspecto urbano/paisagístico para o arquitetônico, representaria pegar uma parte do prédio da Receita Federal que é em frente, onde existe uma fachada toda trabalhada de forma integrada e modificar um canto com uma construção fora dos padrões existentes no restante. Gostaria de ver neste momento, técnicos da Prefeitura manifestando-se como fazem quando se quer construir ou reformar onde existem imóveis antigos que não representam nada em termos de Patrimônio Histórico Cultural baseados num inventário feito de maneira pouco técnica.
– da página do arquiteto Carlos Eduardo Scarpellini Mattos
II
Os espaços públicos são ao mesmo tempo lugares da vida urbana e também documentos da história da cidade. Um Parque Internacional como o de Santana-Rivera acumula então várias camadas de significados. A originalidade daquela divisão fronteiriça,os usos comuns e próprios de cada país, a história de sua construção, …Uma praça linear, acompanhando a linha de fronteira (tão dissolvida entre as duas cidades), que propõe, através de seus tempos e usos, um olhar mais atento. Cada um dos lados do Parque parece ter sempre espelhado a dinâmica das duas cidades: ora uma mais rica, ora mais pobre, em um congraçamento vivencial quotidiano, anônimo, derrubando fronetiras geográficas, assumindo palavras próprias como o Portuñol. Um parque, o Parque Internacional, não pode ser derrotado, vilipendiado por encarregados políticos de plantão, que não são seus donos. O Parque é memória coletiva, maior que qualquer indivíduo, lugar público, não é dos poderosos. É propriedade do povo fronteiriço, deve continuar a existir de forma íntegra, ser restaurado condignamente, ser usado!
– arquiteto Luiz Eduardo Fontoura Teixeira
III
Destruindo os suportes da memória a sociedade capitalista bloqueou os caminhos da lembrança, arrancou seus marcos e apagou seus rastros (…) Nada mais pungente do que a frase “já não existe mais”, essa frase dilacera as lembranças como um punhal, e cheios de temor ficamos esperando que cada um dos lembradores não realize o projeto de buscar uma rua, uma casa, uma árvore, sabemos que não irão encontrá-las nessa cidade, onde a funcionalidade destruiu paisagens de uma vida inteira.
[Marilena Chauí, citada por Ecléia Bosi. In: Memórias Boêmias, Histórias de uma Cidade de Fronteira (Liane Chipollino Aseff)]
IV
Este Parque tem vida.
Este Parque assistiu ao final do Estado Novo e a volta da legalidade democrática, este Parque viveu o suicídio de Getúlio e a comoção popular, este Parque presenciou a chacina dos militantes comunistas, este Parque assistiu ao comício de Prestes.
Este Parque abrigou os fugitivos do arbítrio de 1964, este Parque abrigou também os espiões internacionais, este Parque guiou os uruguaios na diáspora pós 1973, este Parque viveu a infância e a maturidade de milhares de cidadãos da fronteira.
Portanto, este Parque pede respeito com sua condição de Patrimônio Histórico e Cultural desta comunidade. Há de se entender que o grande “atrativo” é o Parque em si, e toda a linha de fronteira, do Fortim e além Niederauer… É isto que os “turistas” querem vivenciar, o Parque em seu espaço generoso, em seus centímetros de beleza e glória.
Há de se entender a importância de uma linha de fronteira revitalizada, humanizada, e não depredada e mal compreendida em toda a sua extensão de beleza e relevância histórica.
-Marlon Aseff
V
“A cultura não pode em última instância, ser reduzida à posição subsidiária de mera promotora (ou freio) do crescimento econômico. O papel da cultura não se esgota no de servir a certas finalidades constitui, de forma mais ampla, o fundamento social das próprias finalidades. O desenvolvimento e a economia são, pois, aspectos da cultura de um povo.”
UNESCO. Nossa Diversidade Criadora.1997, p. 21 e 22.
VI
Colocando a carreta na frente dos bois!
As politicas de acolhimento dos turistas na nossa fronteira da Paz tem sido historicamente pautadas pelo atropelo e pela falta de planejamento de médio e longo prazo. Os turistas visitam e permanecem numa cidade que os acolhe com qualidade de equipamentos de lazer, atrativos culturais, apelos paisagísticos, conforto na hotelaria e segurança para passear.
A informação turística não serve se levar a uma cidade sem atrativos, sem limpeza, planejamento e lazer, sem patrimônio cultural a mostrar e discutir.
Ou seja, de que vale um centro de acolhimento e informações turísticas se o que temos para mostrar for superficial e feio. O que temos nas duas cidades, que neste aspecto se irmanam, é o desejo de manter-se como destino turístico a todo custo. Mas, se durante os cíclicos momentos de afluxo de turismo de compras as administrações locais não estruturaram seus equipamentos e sua política de turismo local para além das compras, não é destruindo os poucos indícios de cultura que nos sobram que se resolverá o caso.
Construir um centro de informações para informar o quê?!
Os nossos turistas quase sempre estão de passagem, então informaremos os caminhos e as distâncias.
É quase um entreposto de troca de cavalos das antigas diligências que cruzaram as distâncias da pampa no século XIX.
A Fronteira da Paz pode e deve ir além disso.
-por José Remedi

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